. . A crise hídrica e o impacto no setor de energia

A situação hídrica no Brasil é considerada a pior em 90 anos. Uma das justificativas é que os níveis dos reservatórios das regiões Sul e Sudeste estavam entre os mais baixos para no mês de maio desde 2001 – ano em que o país enfrentou uma das maiores crises hídricas da sua história e um momento de racionamento. O cenário atual vem sendo influenciado pelo fenômeno natural conhecido como El Ninõ Oscilação Sul (ENOS), que está gerando estiagem nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, onde estão localizados os maiores reservatórios hidrelétricos do país.

Infográfico publicado pela Folha de São Paulo retrata o cenário:

No Sudeste e Centro-oeste, esses níveis estão em 29,83%, situação agravada pela participação de 70,1% nos subsistemas brasileiros. No Sul e do Nordeste, os níveis estão em 61,45% e 60,15% respectivamente. A participação no subsistema é 6,9% e 17,8%. No Norte o cenário é melhor, visto que os reservatórios estão a 83,3%, só que sua participação nacional é de 5,2%. *

A boa notícia é que o risco de racionamento é menor quando comparado com outros episódios parecidos no Brasil, visto que atualmente a capacidade instalada de geração de energia está mais diversificada em fontes térmicas, eólicas e solares. Além disso, nos últimos anos, as linhas de transmissão de energia cresceram muito, o que facilita a exportação de energia entre estados e regiões do país.

No atual cenário chama a atenção a importância das fontes eólicas que hoje representam 10% da produção de energia do Brasil. Em 2001, elas praticamente não existiam. Isso ajudou o país a dobrar sua capacidade instalada de geração, que passou de 74,9 GW para 174,7 GW em 20 anos. As linhas de transmissão também acompanharam o movimento, aumentando de 70 mil km para 145,6 mil km de extensão.

A capacidade brasileira de energia, de acordo com suas fontes de geração, é retratada na imagem:

Soma-se a esse quadro a perspectiva de aumento de consumo de energia. Naquele momento da crise, há 20 anos, era de 5,8%. Para este ano, a expectativa de crescimento é de 4,5%, segundo projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrica (ONS). Além disso, a Internacional Research Institute for Climate and Society (IPI) divulgou relatório mostrando que o fenômeno climático ENOS, que está influenciando a situação dos reservatórios brasileiros, está perdendo força até novembro. Mas o cenário permanece aberto na virada do ano.

A edição de uma Medida Provisória que dá mais liberdade ao Governo Federal para agir na contenção desta crise hídrica e poder afastar o fantasma do racionamento é uma das respostas a esse cenário. Junto dela, segundo pronunciamento do Ministro de Minas e Energia, está o trabalho conjunto com grandes indústrias por um plano de controle do uso energético, a fim de evitar que a necessidade de racionamento chegue na casa das pessoas.

Mas o que será difícil de evitar, e já está acontecendo, é o peso desse quadro na conta final da inflação. No Boletim Focus desta segunda-feira, 28, os analistas apontaram um incremento para o IPCA em 5,97% neste ano. E o Banco Central divulgou a previsão de inflação oficial em 5,8%. Ou seja, acima do teto da meta.

Endossa esse quadro, a manutenção da bandeira vermelha patamar 2 no mês de julho e sua possível continuidade nos próximos meses. No dia 29 de junho, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu elevar o valor da taxa da  bandeira vermelha em 52%, ou seja, o valor de 100 kWh gasto pelo consumidor passará de R$6,24 para R$9,49, que deve estar em vigência no mês de julho.


Como fica o setor elétrico na bolsa de valores?

Segundo avaliação da equipe de Gestão da Geral Asset, na lista de empresas com possíveis impactos financeiros mais severos estão companhias cuja geração de energia hidrelétrica é mais representativa nos resultados.  Empresas com negócios mais diversificados, ou seja, com operações atém da geração, mas de transmissão, distribuição, sentirão um impacto menor.  Não serão impactadas por este cenário as transmissoras de energia, cujos resultados não dependem do quanto de energia passa pelas linhas, e sim do índice de disponibilidade das mesmas.

*Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) divulgados no dia 22/06/21.

Fontes: Relatório do Banco Inter  e matérias publicadas pela CNN Brasil, Folha de São Paulo e G1 nos dias 28/06 e 29/06.

Leia na Íntegra  “Governo publica MP que prevê adoção de medidas emergenciais contra crise hídrica”, “Racionamento atrapalhou retomada da economia em 2001; saiba se problema pode se repetir” e “Conta de luz: Aneel reajusta valor da bandeira tarifária vermelha 2 em 52%”.




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