. . Um maio diferente

Carta do Gestor

Maio finalmente foi de compra no Ibovespa. Em maio de 2019 o índice também havia subido, tendo alta volatilidade naquele período, mas fechando com variação de apenas 0,70%. Nos anteriores, de 2011 a 2018, o Ibovespa apresentou variação negativa nesse mês, chegando a cair mais de 10% por três vezes.

Relatamos isso em função da frase famosa: “Sell in May and Go Away”. Isto é: venda em maio e vá embora. Ocorre que muitos investidores dizem que o período entre maio e outubro se caracteriza pelas férias no hemisfério norte, pelo tempo mais quente, refletindo em liquidez reduzida, dada a “falta de participantes” no mercado, o que sugere um período com risco mais elevado.

Como o mercado brasileiro é bastante relacionado ao norte-americano, acabamos sentindo esses reflexos por diversas vezes. Todavia, vale relatar que problemas domésticos, como crises econômicas e políticas desde 2015, também ajudaram a derrubar o índice nos meses de maio, como é possível observar na tabela 1 a seguir.

No entanto, em tempos de pandemia, maio de 2020 foi diferente. O Ibovespa subiu 8,57%, fechando aos 87.403 pontos, seguido de uma alta de 10,25% em abril/20. Assim, o índice recuperou parte das perdas do ano.

O principal indicador da bolsa brasileira chegou a estar caindo mais de 45,03% em 2020 até o último dia 23/03 (dia do menor índice de fechamento desse ano, que foi de 63.570 pontos). Agora, até o fim do último mês, o índice registra queda de “somente” 24,42% em 2020 (ver tabela 2). Do fundo do poço do dia 23/03 até o fim de maio (ver gráfico 1), o Ibovespa subiu 37,5%.

Isso aconteceu em função:

  • dos estímulos fiscais e monetários sem precedentes na história da economia mundial,
  • da perspectiva de reabertura da economia brasileira e de vários países que já passaram pelo pico da curva do Covid-19, e
  • da esperança que uma vacina seja encontrada rapidamente.

Além disso, a taxa Selic foi reduzida de 3,75% a.a. para 3% ao ano. Podendo ser novamente reduzida, chegando a 2,25%, dado o cenário recessivo aqui e no mundo.

Em termos setoriais, destacamos a alta dos preços na prévia do segundo trimestre, considerando o acumulado dos meses de abril e maio. Vimos o ICON, índice relativo ao setor de consumo na bolsa, e o IMAT, índice relacionado às commodities, tiveram altas de 26,7% e 23,9%, respectivamente.

O primeiro está mais relacionado com a expectativa de retomada da economia brasileira. O segundo, ligado a retomada da economia chinesa. Exemplo disso é a Vale que está no IMAT.

A alta é reflexo da maior demanda chinesa e estoques mais baixos nos portos chineses. Ainda avaliando o acumulado de abril e maio, um pouco para trás ficaram os setores os índices do setor financeiro (IFNC) e do setor imobiliário (IMOB), com altas de 8,2% e 8,6%, respectivamente.

Então, está tudo resolvido? Não.

Como dissemos na Carta do Gestor do mês de maio, a incerteza é elevada. Ainda não sabemos o impacto total na economia real. As estimativas apontam para o PIB brasileiro caindo entre 6% e 10% em 2020. O que significa a queda mais profunda da história econômica brasileira.

E como será a recuperação? Também é impossível dizer. Entraremos em “novo normal”, com diversas atividades sendo totalmente transformadas pela nova economia que surge pós pandemia e pela “convivência” com o vírus antes de encontrarmos a cura.

Desse modo, cabe a nós como gestão entendermos esse novo mundo que surge pós- covid-19. Aplicar os recursos em empresas sólidas, que sobrevivam e possam se transformar e crescer nesse novo normal. Ou seja, a velha palavra adaptação está mais na moda do que nunca. É isso que estamos analisando para participarmos de bons negócios para agregar valor aos nossos cotistas.

Essa lógica se torna ainda mais importante em um momento em que o CDI “morreu”, e muitos investidores estão precisando aplicar seu dinheiro de fato na atividade real. E isso está acontecendo, basta ver a nossa última tabela com dados da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), mostrando que os investidores brasileiros estão começando a aplicar de forma diferente. Contribuir nessa mudança, aplicando em negócios, não só em “papéis”, é justamente esse o nosso trabalho.

Então, segundo a ANBIMA, cinco classes de fundos tiveram captação líquida positiva entre 1º e 22 de maio: renda fixa (R$ 3,2 bilhões), FIDC (R$ 529 milhões), cambial (R$ 518 milhões), ações (R$ 222 milhões) e FIP (R$ 196 milhões).

Os fundos multimercados, de previdência e ETFs tiveram saída líquida de recursos de R$ 400 milhões, R$ 2,2 bilhões e R$ 1 bilhão (resgate de R$ 1 bilhão concentrado de um único fundo), respectivamente. No ano, até 22 de maio, a indústria de fundos acumula resgates de R$ 56,6 bilhões. Resultado dos resgates de mais R$ 114 bilhões nos fundos de renda fixa, dada a baixa rentabilidade devido a Selic em 3% a.a., e das aplicações em fundos de ações no montante de R$ 47,8 bilhões e de R$ 12,4 bilhões em multimercados.

Essa migração é explicada pelos investidores buscando rentabilidade superior à renda fixa, que está bem longe dos tempos de “bonança” e da “zona de conforto” com retorno de mais de 14% ao ano.

O deslocamento de recursos da renda fixa para outros produtos é muito importante para desenvolver um mercado financeiro e de capitais de verdade no Brasil.

Por fim, em termos de estratégia de curtíssimo prazo, ainda estamos com parte da carteira em caixa, buscando entender o cenário que se desenha para aplicar de melhor forma possível, preservando e rentabilizando o capital. Sabemos que o reflexo da recessão ainda não está totalmente refletido na economia real. Mas sabemos que essa pandemia irá passar. O importante é ter paciência.

Obrigado pela confiança de investir conosco!

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